A corrida pelo Palácio 29 de Março, sede do Executivo municipal em Curitiba, entrou em uma fase decisiva com o início da campanha oficial.

Eduardo Pimentel, atual vice-prefeito e candidato ao cargo de prefeito pelo PSD, desponta como o principal nome na disputa, mas os bastidores da política curitibana mostram que a trajetória até o segundo turno não será nada simples.

Eduardo Pimentel enfrenta um cenário político em mutação desde as convenções partidárias até o registro das candidaturas. Antes, Pimentel tinha como adversário “preferido” o ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), que conta com o apoio do PT e do presidente Lula.

A lógica inicial sugeria que um confronto direto com Ducci no segundo turno seria vantajoso para Pimentel, dada a alta rejeição de Lula e do PT na capital paranaense, segundo os luas-pretas do Centro Cívico.

Contudo, com o avançar do processo eleitoral, uma nova configuração se apresenta nesta segunda quinzena de agosto.

O deputado Ney Leprevost, candidato do União Brasil, trouxe para sua chapa “puro-sangue” a deputada federal Rosângela Moro como vice, esposa do senador e ex-juiz Sergio Moro. Essa composição representa um desafio direto à estratégia de Pimentel, que agora enxerga um segundo turno contra Leprevost como a tempestade perfeita.

Pimentel tem reavaliado seus cálculos políticos. Ele agora prefere evitar um confronto direto com Ducci e foca em neutralizar a ameaça representada pela chapa de Leprevost e Rosângela Moro. Para isso, a estratégia é clara: reunir uma ampla coalizão que una “gregos e baianos”, ou seja, forças políticas díspares, mas que compartilham uma aversão comum à influência de Sergio Moro e o campo lavajatista.

Este cenário de polarização extrema coloca Pimentel em uma posição onde ele precisa ser o candidato de consenso, capaz de aglutinar forças moderadas e progressistas contra a chapa considerada mais à direita no espectro político curitibano. A sua estratégia passa por uma campanha que enfatiza a experiência administrativa e um discurso que busca distanciar-se de confrontos ideológicos mais acirrados, apostando na rejeição ao lavajatismo como um fator unificador.

Neste contexto, o ex-governador Roberto Requião (Mobiliza) cumpre papel central. Embora sua candidatura não seja vista como competitiva o suficiente para chegar ao segundo turno, Requião possui uma capacidade ímpar de influenciar o resultado final. Seu histórico de confrontos diretos com figuras da política nacional e seu discurso alinhado à esquerda o colocam em uma posição estratégica para fustigar Ducci.

Requião pode, com sua retórica, desviar votos de Ducci, especialmente entre o eleitorado mais progressista e ligado ao PT. Este movimento seria essencial para evitar que Ducci consiga alcançar o segundo turno, abrindo espaço para o embate entre Pimentel e Leprevost.

O ex-governador, conhecido por sua habilidade em criar narrativas poderosas, poderia redefinir o cenário, transformando a disputa em um duelo entre o moderado Pimentel e o conservador Leprevost.

Entretanto, espera-se que Requião conquiste ao menos 12% das intenções de voto nas eleições de 6 de outubro. Abaixo deste índicie de votação, imaginam os bruxos e os marqueteiros, Ducci poderia avançar para o segundo turno.

A inclusão de Rosângela Moro como vice na chapa de Leprevost não é apenas um aceno ao eleitorado de direita, mas uma clara tentativa de capturar o voto dos apoiadores da Operação Lava Jato. Esse segmento do eleitorado, ainda significativo em Curitiba, vê em Sergio Moro uma figura de integridade e combate à corrupção, valores que a chapa de Leprevost tenta capitalizar.

Porém, essa mesma aliança com a Lava Jato pode ser um ponto fraco, dependendo de como o restante do eleitorado curitibano reage. Pimentel, consciente disso, busca polarizar a eleição de modo a fazer de Leprevost o adversário ideal, alguém que pode ser derrotado ao unir todos os segmentos contrários ao lavajatismo. A estratégia de comunicação de Pimentel tem sido focada em emitir sinais para o campo progressista, visando o segundo turno.

Além disso, Pimentel poderia atrair votos de segmentos que normalmente não se alinhariam ao seu projeto, mas que veem em Leprevost uma ameaça maior à estabilidade política da cidade. Neste cenário, a propaganda eleitoral no rádio e na televisão, que começará no dia 30 de agosto, será importante para definir os rumos da disputa. As peças publicitárias serão orientadas a consolidar a imagem de Pimentel como um gestor competente, capaz de unir a cidade em torno de um projeto comum.

Embora Eduardo Pimentel seja apontado como o favorito, a corrida pela Prefeitura de Curitiba em 2024 está longe de ser decidida. As mutações políticas entre as convenções partidárias e o registro das candidaturas mostram que o cenário ainda pode sofrer novas reviravoltas. A entrada de figuras polarizadoras, como Rosângela Moro, e a atuação de pesos-pesados da política local, como Roberto Requião, adicionam emoção e dramaticiidade a uma eleição que promete ser uma das mais acirradas da história recente da capital paranaense.

Os próximos dias serão decisivos, e a habilidade dos candidatos em se adaptarem às mudanças no cenário político pode determinar o resultado final. A campanha de Pimentel está ciente dos desafios e preparada para enfrentar a tempestade que se desenha no horizonte político de Curitiba.