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Luiz Garcia, O Globo
Ele não era um deputado de pouco prestígio e escasso poder: seria difícil entender que fosse assim definido um político que seus companheiros de partido chegaram a eleger vice-presidente da Câmara dos Deputados. Esta semana, já devolvido à planície do plenário, o paranaense André Vargas, do PT, anunciou que renunciaria ao mandato, no que acreditaremos quando acontecer — se acontecer.

Numa carta que ele talvez imagine convincente, Vargas afirmou estar sendo massacrado pela imprensa, o que o levou a anunciar a saída de cena para preservar a família.
Lamentavelmente, não citou qualquer notícia ou reportagem que, por exagero ou falsidade, pudesse ser definida como massacre. Na verdade, o noticiário a respeito de suas tribulações recentes mostra principalmente uma decisão do seu partido no sentido de se livrar de uma companhia que o PT descobriu ser incômoda demais para sua própria saúde.
Alguns observadores cruéis talvez manifestem surpresa ante o fato de que o ex-deputado conseguiu manter em segredo, por muito tempo, suas relações com o doleiro Alberto Youssef, recentemente preso pela Polícia Federal na investigação batizada de Operação Lava-Jato. Como o nome sugere — pelo menos para quem entende do assunto — trata-se de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Para leitores ingênuos como eu, é surpresa bastante agradável ficar sabendo que esquemas bilionários não escapam dos olhos atentos dos nossos bravos e, como se vê, eficientes policiais federais.
É pena, por outro lado, que um partido poderoso e acima de qualquer suspeita como o PT tenha sido surpreendido com a revelação das relações pecaminosas de um companheiro de partido que chegou à vice-presidência da Câmara — o que, supõe-se, não é para qualquer um. Mas também é verdade que essas coisas acontecem, aqui e além-mar. Registre-se que a reação do partido foi submeter Vargas a um castigo definido pelos observadores como “isolamento e fritura interna”.
É preciso insistir: não parece ser o suficiente para um partido da importância do PT.