De O Globo:
A reeleição da presidente Dilma Rousseff depende das pesquisas de intenção de voto dos meses de abril/maio, disse à revista eletrônica Carta de Brasília Antônio Lavareda, um dos mais experientes consultores eleitorais do país, que tem trabalhado para o candidato do PSB, Eduardo Campos, e assessorou Fernando Henrique.
“Se em abril/maio as expectativas das pessoas a respeito da economia estiveram negativas, a popularidade da Dilma estiver em baixa, o desejo de mudança estiver elevado e a intenção de voto nela começar com viés de baixa, o ‘Volta Lula’ passa a ser um clamor sintonizado com a elementar racionalidade do partido, o PT”, afirma ele.
Lavareda é advogado, jornalista e doutor em Ciência Política. Veterano de campanhas políticas, criou o instituto de pesquisas eleitorais Ipesp e comanda a consultoria política MCI. É autor do livro “Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais”, entre outras obras sobre partidos e campanhas. Foi um dos repaginadores do PFL, na mudança para Democratas.
Lavareda explica que os estudiosos dos fenômenos eleitorais costumam indicar três variáveis, aferidas em meados do semestre anterior à data das eleições, para julgar as possibilidades de reeleição de um presidente: avaliação da economia, a chamada percepção do eleitor; a popularidade do presidente; e o tempo do partido na Presidência.
Certa vez, o sr. disse que não pode haver oposição boa a um governo com 80% de popularidade. E hoje, a oposição está se tornando mais competente?
Isso é como uma gangorra. Quando o governo está em baixa, a oposição está em alta e vice-versa. É impossível ter governo e oposição bons e fortes. Não existe isso em nenhum lugar do mundo. A correlação de forças desses vetores é inversa.
As pesquisas mostram um baixo interesse do eleitor pela disputa. Quando ele vai começar a se interessar?
Quando começar a campanha, quando haverá maior número de informações sobre os candidatos e a campanha. É natural. Hoje as pessoas estão interessadas na vida, preocupadas com a inflação, com sua prosperidade no emprego, com sua relação afetiva. Só três categorias se interessam o tempo todo por eleições: políticos, jornalistas e marqueteiros, que vivem disso.
Por quantos mandatos um partido consegue se manter no poder?
Quando se fala em política, eleição, presidencialismo, temos que levar em conta os Estados Unidos, porque eles são meio matriz das coisas, da nossa República, do modelo que praticamos. Lá houve um ciclo iniciado em 1933, do Roosevelt (Franklin Delano), que ganhou quatro eleições.
Naquela época, não havia o teto de dois mandatos para o mesmo presidente. Ele nem cumpriu o quarto mandato porque morreu e assumiu o Truman (Harry S.), que se reelegeu e perdeu em 1952 para o Eisenhower (Dwight David “Ike”).
Tirando, então, o New Deal (“Novo Pacto”, nome do pacote de programas econômicos de Roosevelt, lançado entre 1933 e 1937, com o objetivo de recuperar a economia norte-americana e assistir as vítimas da maior crise do país, a Grande Depressão) e a Segunda Guerra Mundial, que explicam esse período de ciclo longo, estendido à exaustão, da década de 1950 para cá estamos falando de 64 anos.
Então o mais longo foi esse, os cinco mandatos democratas, 20 anos, de 1933 a 1953. De lá para cá, só uma vez um partido conseguiu ficar três mandatos na Casa Branca. O Partido Republicano, que cumpriu dois mandatos com o Reagan (Ronald), de 1980 a 1988, e em seguida conseguiu eleger o vice George Bush pai, para o período 1988 a 1992, quando ele foi derrotado pelo Bill Clinton.
Por que a referência é de 1950 para cá?
Por causa da televisão, época do início das campanhas modernas. Nos modelos que tentam calcular possibilidade de vitória de candidatos, os estudiosos acreditam que as mais fortes estatisticamente indicam três variáveis tomadas em meados do semestre anterior às eleições: avaliação da economia, não o estado da economia, mas o dado subjetivo, a percepção do eleitor; a popularidade do presidente; e o tempo do partido na Presidência.
Traduzindo para o miúdo brasileiro, Dilma: a expectativa das pessoas e a popularidade de Dilma em abril/maio, se estiverem positivas, vão ser fundamentais, porque o tempo no poder joga contra ela, por causa da fadiga de material. No caso americano, com uma série maior de eleições, isso é comprovado estatisticamente.
O sr. acredita no “Volta Lula”?
Acredito nessa possibilidade porque, na medida que você vai tendo uma série razoável de eleições, as variáveis cujo conhecimento é capaz de antecipar mais ou menos o que pode acontecer na campanha eleitoral são conhecidas de todos.
Se em abril/maio as expectativas das pessoas a respeito da economia estiveram negativas, a popularidade da Dilma estiver negativa, o desejo de mudança estiver elevado e a intenção de voto nela, em associação com tudo isso, começar com viés de baixa, o “Volta Lula” passa a ser um clamor sintonizado com a elementar racionalidade do partido, o PT, que como qualquer partido quer manter o poder.