do Blog do Noblat

Se estelionato eleitoral fosse considerado crime de responsabilidade sujeito à punição com a perda de mandato do presidente da República, Lula, ontem, durante reunião do Diretório Nacional do PT em Brasília, teria assinado o pedido de impeachment de Dilma.
O que ele disse avalizou o que a oposição tem dito desde que Dilma foi reeleita, e o que parece ser consensual entre os brasileiros. A saber:
– Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer.
Carece de explicação?
Por ter dito uma coisa e feito outra ao começar a governar pela segunda vez, Dilma cometeu estelionato. No caso, estelionato eleitoral. Estelionato vem a ser:
“(…) uma prática criminosa que ocorre quando alguém vende, hipoteca ou cede alguma coisa para mais de uma pessoa, enganando as duas. Um estelionatário obtém vantagens para ele próprio através da utilização de uma fraude.”
Dilma atraiu votos dizendo o que as pessoas desejavam ouvir – que o país estava uma maravilha, que seguiria sendo uma maravilha, que a inflação estava sob controle e que a economia continuaria crescendo.
Como se viu, mentiu. O país passou a andar para trás. A inflação fechará o ano na casa dos 10%. A retração da economia está calculada em 3%. E o número de desempregados ultrapassou a casa de um milhão.
Estelionato eleitoral não é razão para depor um presidente da República. Se fosse, Sarney, por exemplo, não teria completado seu mandato. Nem Fernando Henrique Cardoso. Ambos mentiram para o distinto eleitor mais de uma vez.
Embora não tenha sido essa sua intenção, Lula prestou um relevante serviço ao país ao admitir que pelo voto o político é capaz de fazer qualquer coisa – principalmente enganar os que podem elegê-lo.
Mentir é um pecado venial? Todos não mentem? Pode ser um pecado venial em certos casos. Mas na boca de um político, e com o objetivo de engabelar os que o escutam, a mentira será sempre um pecado mortal.
A dimensão pública do político – de qualquer um – confere mais gravidade às suas palavras e aos seus silêncios. O que está em jogo são os interesses da sociedade e o destino do país. Não é pouca coisa. E nada tem de trivial.