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Depois de conseguir, com manobras regimentais e apoio de aliados, arrastar por 11 meses o processo por quebra de decoro parlamentar, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) enfrenta nesta segunda-feira o julgamento da cassação de seu mandato pelo plenário da Casa. Até domingo, 301 deputados revelaram, em enquete realizada pelo GLOBO, que votarão a favor da perda do mandato do peemedebista, e outros 181, apesar de não declararem o voto, confirmam presença em Brasília nesta segunda-feira, a partir de 19h. Cunha tem o apoio declarado de apenas quatro parlamentares. O voto será aberto, com a posição de cada exibida no painel. As informações são d’O Globo.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou neste domingo à noite uma liminar pedida por Cunha para tentar suspender a votação na Câmara. Foi o quinto recurso de Cunha rejeitado pelo STF, onde o peemedebista é réu em duas ações penais. Numa delas, é acusado de receber propina de US$ 5 milhões por contrato de navios-sonda da Petrobras e, na outra, de ter mantido contas secretas na Suíça. Cunha ainda responde a quatro inquéritos e a um pedido de prisão formulado pelo Ministério Público.
Para que o mandato de Cunha seja cassado serão necessários pelo menos 257 votos sim. Entre os próprios aliados do PMDB e de partidos do centrão que o apoiavam, o clima é de pessimismo. Mas o grupo ainda tentará uma última cartada na batalha para adiar a votação e aprovar uma pena mais branda, já que a estratégia de esvaziar o quórum pode não surtir efeito.
Procurado pelo GLOBO, Eduardo Cunha preferiu não se manifestar. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), próximo a Cunha, disse que pedirá apenas a suspensão do mandato. E, para isso, usará em plenário um dos argumentos apresentados pela defesa de Cunha ao Supremo: o que tem que ser levado a voto é um projeto que pode receber emendas propondo penas mais brandas. Cunha não quer que seja votado o parecer pela cassação aprovado pelo Conselho de Ética, de autoria do deputado Marcos Rogério (DEM-RO).
— O regimento é claro. O que vai a voto é o projeto de resolução. Espero que o presidente (da Câmara) já decida neste sentido, mas, se não o fizer, vamos recorrer — avisou Marun.
O Palácio do Planalto tenta evitar qualquer vinculação com o desfecho do caso de Cunha na sessão de hoje. Ontem, ministros avaliavam que há ainda muitos aliados de Cunha, mas que eles estão pensando nas consequências imediatadas, como as próprias eleições municipais. Por isso, o placar elástico contra Cunha.
— O melhor para Temer, para o governo e para o Planalto é não se meter nisso — disse um ministro.
MAIA DEVE EVITAR NOVOS ADIAMENTOS
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisou que seguirá a tradição e o regimento da Casa e colocará em votação o parecer do Conselho de Ética. Acrescentou ainda que deve negar as questões de ordem que apontem para a votação de um projeto, mas admite que o plenário poderá dar a palavra final sobre as dúvidas regimentais. O papel de Maia é considerado vital para evitar mais adiamentos desse caso. Os adversários de Cunha, que criticam as manobras do peemedebista, afirmam que a votação a ser feita no dia de hoje é a do Conselho de Ética.
— Rodrigo já atendeu o pedido do governo para que a a votação de Cunha acontecesse após o impeachment de Dilma. Não acredito que ele vá ceder a mais essa manobra. A hora do Eduardo, por mais que esperneie, está chegando — disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
A expectativa é que quórum seja elevado — com mais de 400 presentes — apesar de se tratar de uma segunda-feira, e em plena eleição municipal. Marcos Rogério diz que as atenções da sociedade estarão voltadas para esse julgamento e que o pior, para qualquer político que tenha pretensões futuras, é ter que explicar a ausência:
— O parlamentar estará julgando e está sendo julgado com uma posição ou outra. Em algum momento da vida política será cobrado. Votar contra ou a favor é justificável, Ausentar-se não.
O relator da cassação descarta a tese de votação do projeto de resolução e diz que, neste momento, qualquer tentativa neste sentido seria casuística. Marcos Rogério também diz que não há como fatiar a pena de Cunha, como aconteceu no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, cassando o mandato atual, mas permitindo que ele possa concorrer nas próximas eleições, já que a pena de inelegibilidade por oito anos é uma decorrência da perda de mandato e está prevista na Lei da Ficha Limpa.