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Quem ouve o senador Requião falar, mesmo dando o desconto de sua natural propensão para a sinistrose, fica com a impressão de que poucos políticos vão se safar da megadelação da Odebrecht. Além de Marcelo Odebrecht, falaram todos os 50 executivos da maior empresa privada do continente. E entregaram tudo e todos que podiam para se safar do pior. A lista de acusados será conhecida ainda em 2016, se a Procuradoria Geral da República, que promete validar as delações até o final deste mês, se dispuser a divulgá-la na íntegra.
Requião tem as suas fontes e convive com o medo cotidiano de seus pares no Senado. Segundo ele, a delação atinge, quase todos os presidenciáveis. Estes seriam apenas os mais graduados de uma lista de cerca de duzentos nomes. É claro que uma parte das acusações ainda não se materializou em provas. Mas como o custo de uma delação falsa é o aumento da pena do delator, alguma credibilidade tem e gera imenso dano moral e político ao acusado. No mínimo, o fim da carreira.
É claro que Requião tem um interesse adicional nessa caça aos corruptos. A esperança de ver prováveis adversários fora de combate, o que facilitaria a disputa de mais um mandato. Na delação há deputados (federais e estaduais), senadores, governadores, prefeitos, vereadores – todo o arco dos que disputam eleições e postulam contribuições. E o próprio Michel Temer foi acusado, esta semana, pela defesa de Dilma Roussef, de ter recebido cheque de R$ 1 milhão para a campanha de 2014. Isso enfraquece, perante o TSE, a tese de que as campanhas não se misturaram. Essa mistura, se comprovada, o afasta inapelavelmente do cargo, lembra Requião. E mesmo não se comprovando, a jurisprudência lhe é desfavorável. Os delitos de campanha têm penalizado a chapa, independentemente de quem seja o infrator.
A Câmara dos Deputados tentou aprovar um projeto salvacionista com punição específica para caixa dois. O truque é que, se aprovada a lei, estariam anistiados os que incidiram até aqui no caixa dois, uma vez que a lei, segundo cláusula pétrea constitucional, não retroage para punir. Só seriam alvos os que voltassem a delinquir. Seria um golpe na Lava Jato, que teria de abandonar investigações nesse quesito, que é dos mais densos até aqui. Não deu certo. A denúncia do golpe correu rápida na internet e impediu a falcatrua.