Por Ricardo Noblat
A história contada pelo primeiro amigo, o advogado José Yunes, parceiro de o presidente Michel Temer há mais de 40 anos, tem começo, meio e fim, mas não resiste à meia dúzia de perguntas inocentes.
Tudo indica que foi concebida para livrá-lo de maiores encrencas com a Lava Jato, blindar Temer e oferecer uma saída honrosa para Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil da presidência da República.
Por ora, Padilha deixou o cargo para tratar da saúde ameaçada por um tumor na próstata. Imagina voltar ao governo no próximo dia seis. Se o fizer não será sozinho. Com ele, a Lava Jato entrará de vez no Palácio do Planalto e se instalará a poucos metros do gabinete de Temer.
Haverá situação mais incômoda para um presidente carente de popularidade e com uma agenda repleta de graves problemas?
Na primeira ocasião, Padilha se verá constrangido pela pergunta sobre o conteúdo do pacote que pediu a Yunes para receber e que depois mandou buscar no escritório dele em São Paulo.
Era um pacote com certa espessura, segundo Yunes, e que lhe foi entregue pelo doleiro Lúcio Funaro, operador de negócios do ex-deputado Eduardo Cunha. Hoje, Funaro está preso em Brasília e Cunha em Curitiba.
Yunes foi citado na delação de executivos da Odebrecht. O tal pacote conteria parte dos R$ 10 milhões pedido por Temer a Marcelo Odebrecht, na época presidente da empresa, para financiar campanhas do PMDB em 2014.
Temer pediu o dinheiro, mas, segundo ele, de acordo com a lei. Na delação, consta que foi dinheiro de propina, registrado na contabilidade oculta da Odebrecht. Yunes conta que não sabe quem foi buscar o pacote.
A acreditar-se no que ele disse é curioso que Yunes jamais tenha conversado com Padilha sobre o pacote. Não o fez “por uma questão de ética”, justificou-se. Mais curioso que tenha informado a Temer há dois anos sobre o que se passara.
Extraordinariamente curioso é o fato narrado por Yunes de que Temer não tivesse até a semana passada procurado Padilha para se informar a respeito.
Há mais furos nessa história do que numa peneira. Por que Padilha pediria a Funaro para deixar um pacote com dinheiro ou com qualquer outra coisa no escritório de Yunes se Yunes, conforme jura, não conhecia Funaro e nunca arrecadou dinheiro para o PMDB?
Por que a Odebrecht, dispondo de meios para fazer entregas em qualquer lugar do país, se valeria de Funaro e de Yunes para repassar dinheiro a Padilha?
Que amigo da onça, Yunes! Antes mesmo da quebra do sigilo que cerca a delação da Odebrecht, antecipou-se a uma futura convocação, bateu na porta da Procuradoria-Geral da República e deixou perplexos os que se dispuseram a ouvi-lo.
Quis salvar a própria pele. Estragou a pele de Padilha em um momento de extrema fragilidade dele. E ensombreceu o destino de Temer e do governo. Logo agora.
Logo quando o ministro da Fazenda havia anunciado o fim da recessão. Logo quando o governo reunia indicações de que o pior ficou para trás. Logo quando Temer mais precisava de Padilha para aprovar a reforma da Previdência.
Até aqui, Temer perdeu oito ministros da sua equipe original. Do chamado núcleo duro do governo, só resta Moreira Franco.
Com o fim do carnaval, os próximos três a quatro meses serão de forte turbulência com prisões de políticos e condenações que só esperam a assinatura do juiz Sérgio Moro (alô, alô, Lula!).
A questão principal não é quem será atingido. Mas quem sobrará.