Jaime Lerner, o urbanista que nos ensinou a sonhar

    Jaime Lerner gostava de dizer que nada é tão complexo quanto querem os vendedores de complexidade.

Longe de qualquer simplismo, a máxima é a exata tradução da vontade de fazer, de resolver, de abrir caminhos em vez de tapar buracos, com que há exatos 50 anos foi lançado na vida pública.

Com apenas 33 anos e em pouquíssimo tempo, fez da então provinciana Curitiba uma referência para o mundo. A partir dali, seu nome e Curitiba tornaram-se expoentes nos fóruns urbanos internacionais, assim como será seu grande legado.

A política veio por gravidade, e ele a exerceu com a leveza da alma nobre e gentil que era, movido pela força das idéias, que sempre faziam brilhar seus olhos azuis, e do sorriso cativante com que expunha questões e projetos.

“Não sou um carismático, sou apenas um cara asmático”, brincava, em referência à asma que o castigou a vida toda e ao modo pouquíssimo convencional com que exerceu a política. Na verdade, foi político na melhor acepção da palavra, um líder como poucos.

Desprezava o discurso empoado , tão próprio de “homenzinhos solenes e vazios”. Preferia as sentenças curtas. “A cidade é o cenário do encontro”, ao pregar a convivência das funções urbanas e das diversas classes sociais. “O automóvel é a sogra mecânica”, para dizer que o transporte individual é inerente ao homem, mas a prioridade deve ser do transporte coletivo. “Pensar o ideal, fazer o possível já”, para enfatizar a urgência do encaminhamento das soluções urbanas. Fazendo o possível já, transformou o ônibus em metrô de superfície, numa fração do termpo de implantação e dos custos dêste , um sistema hoje adotado por mais de 200 cidades no mundo.

Hoje de madrugada, o arquiteto das frases curtas e marcantes nos deixou. Fica a obra, que não morre Ela está em toda a Curitiba, se espalha pelo Paraná. Está em nossos corações. Está na alma de gerações de urbanistas e gestores urbanos que se seguiram a ele.

(*) por Jaime Lechinski

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