Autor de ataque com faca a clientes de bar de Curitiba pediu para ser morto após crime, diz delegado

Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas em decorrência do ataque registrado no sábado (22); delegado falou também sobre os livros distribuídos pelo suspeito antes do ataque


O jovem suspeito de matar uma pessoa e ferir outras três com golpes de faca em um bar de Curitiba (PR) pediu para ser morto após o crime, segundo o delegado responsável pelas investigações. O autor do ataque portava ao menos seis facas e distribuiu livros aos clientes do estabelecimento antes de esfaquear as vítimas.

Em entrevista coletiva concedida à imprensa na manhã desta terça-feira (25), o delegado José Vitor Silva Pinhão afirmou que há a hipótese de que o suspeito tenha provocado o ataque com a intenção de ser morto em seguida. “Às próprias pessoas que o detiveram, ele pediu: ‘Me matem’. Portanto, não está descartada a hipótese de que ele tenha provocado o ataque para o matarem”, disse o delegado.

Autor do ataque com faca em bar no Campina do Siqueira, em Curitiba (PR), permanece preso – Foto: Reprodução

Além disso, as investigações apontam para a ideia de o crime estar relacionado à expulsão dele de casa uma semana antes do crime. Segundo Pinhão, o jovem, de 27 anos, não possuía boa relação com a família. Em relação à possível premeditação, o delegado alegou que a Polícia Civil estuda a possibilidade e acrescentou que “ainda é prematuro dizer que ele se armou com as facas para cometer o crime”.

Além da mãe do suspeito e de outros clientes que estavam no bar, outras testemunhas, como as próprias vítimas, devem ser ouvidas nos próximos dias. A polícia diz crer que ele tenha agido sozinho.

O homem, que está preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, a cerca de 30 km do bar onde houve o ataque, deve ser indiciado por homicídio qualificado e tentativa de homicídio qualificado.

O ataque

Era por volta de meia-noite e meia quando uma câmera de segurança do bar Distrito 1340 registrou o momento em que o suspeito se dirigiu a uma mesa e desferiu golpes de faca contra pelo menos quatro pessoas que estavam no estabelecimento. O crime aconteceu no sábado (22), no bairro Campina do Siqueira, em Curitiba (PR).



Poucas horas após o crime, testemunhas que estavam no local chegaram a afirmar à Banda B que o ataque havia sido motivado pelo uso de cigarros no ambiente externo do bar por parte do autor. No entanto, o delegado José Vitor Silva Pinhão descartou a hipótese nesta terça (25) e revelou ainda que ele não havia consumido bebidas alcóolicas em excesso.

Mauri José Glus, de 49 anos, morreu no local em decorrência do ataque. Outras três pessoas, com idades entre 22 e 57 anos, foram encaminhadas com ferimentos a hospitais da capital paranaense e já receberam alta.

O programador Mauri José Glus – Foto: Reprodução

Durante depoimento à polícia, o suspeito disse ter sofrido um surto psicótico e não lembrar do ocorrido. Ele também afirmou ter distúrbio de personalidade e que faz tratamento psiquiátrico com medicamentos controlados. No dia do ataque, contudo, alegou não ter tomado os remédios.

Ao ser questionado se conhecia as pessoas que foram esfaqueadas, ele relatou que não tinha qualquer tipo de relacionamento com elas e que não havia motivos para atacá-las. As seis facas encontradas na mochila dele seriam usadas no trabalho, uma vez que ele mencionou ser chef de cozinha.

Agora, a Polícia Civil tenta traçar a rota do suspeito até o bar onde houve o crime.

A distribuição de livros

Segundo o delegado responsável pelas investigações, o autor das facadas distribuiu livros relacionados a crimes para clientes do bar momentos antes do episódio de agressão. À Banda B, o proprietário do estabelecimento declarou que o ato contribuiu para o surgimento da hipótese de que o ataque tenha sido premeditado.

Tem a história do livro, que já está sendo contada. O que o livro diz é exatamente o que aconteceu. O que estão nas páginas, ele fez aqui. Eu não posso dizer que foi premeditado, mas é muito louco pensar que isto aconteceu aqui dentro. Está todo mundo assustado, chocado e esperando o que vai acontecer. Não será fácil retornar às atividades“, disse o empresário Fernando Donnabella.

Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas no ataque – Foto: Banda B

Entre os livros distribuídos havia a obra “Precisamos falar sobre o Kevin” (Lionel Shriver, 2003). De acordo com a sinopse do livro divulgada pela Amazon, o autor “realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas”. A história, que virou filme mais tarde (2011), é sobre o personagem Kevin que, aos 15 anos de idade, mata 11 pessoas em um colégio, entre elas colegas e familiares.

“Kevin, uma criança agressiva e cruel, nutre uma assustadora hostilidade pela sua mãe que se intensifica com o passar dos anos, destruindo a harmonia familiar e tornando Eva uma mulher infeliz, amargurada e tomada pelo terror”, diz trecho da apresentação do filme no site Wikipédia.

Sobre a relação entre o ataque com faca no bar e a entrega deste livro em específico, o delegado José Vitor Silva Pinhão afirmou: “O adolescente Kevin cometeu um crime para impressionar a mãe. É uma história muito parecida com o que está sendo investigado. A partir de agora, vamos averiguar a relação dele com a família, local de trabalho e amigos para vermos a personalidade dele”.

O que diz a assistência de acusação

Em entrevista à Banda B, o advogado Igor José Ogar, que compõe a assistência de acusação no caso e defende a família do homem morto em decorrência do ataque, afirmou que “não há dúvidas de que a investida tenha sido planejada”.

“Ele [Mauri] era o caçula da família. Tem uma mãe bastante idosa que está sofrendo muito. Nós ainda entendemos, diferente do delegado, que há indícios de que houve premeditação, pois quem sai com uma arma, sai para praticar um ato, o qual se consumou”, disse.

Segundo ele, a distribuição de livros relacionados a crimes reforça a ideia de o crime ter sido planejado.

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