Cristina Graeml no União não surpreende, mas deixou muita gente do Centro Cívico atenta já que a filiação mexe no xadrez político de 26

A decisão da jornalista Cristina Graeml de se filiar ao União Brasil não chega a surpreender. Talvez a novidade seja o timing. Ela e Sergio Moro já vinham conversando sobre isso e a assunção do senador à presidência do diretório estadual acelerou as tratativas.
Na semana passada, Cristina esteve em Brasília onde se reuniu com o ex-juiz da Lava Jato e Antonio Rueda — homem forte do União Brasil. Ela saiu do encontro satisfeita. Ouviu o que queria: a chancela da pré-candidatura ao Senado Federal em 2026. Mas a batida de martelo aconteceu ontem (25).
Ela também tinha esta promessa dentro do Podemos, mas o cenário e o clima dentro da legenda de Alvaro Dias não eram dos melhores. Longe disso. Filiada em fevereiro deste ano no salão verde da Câmara Federal, sob as bênçãos de Renata Abreu, o evento prometido em Curitiba nunca veio. Cristina, nos bastidores, tentou assumir o comando do Podemos do Paraná, mas o diretório se manteve com Gustavo Castro — homem forte de Alvaro Dias.
A jornalista deixa o Podemos de forma pacífica. Ela telefonou ontem tanto para Renata Abreu quanto para Alvaro. Aliás, a jornalista deve rasgar elogios aos dois na coletiva desta sexta-feira. Mas o ex-senador torceu o nariz. Pessoas próximas a ele confidenciaram que Alvaro chegou a falar em traição.
Aliás, o ex-senador, animado com alguns levantamentos eleitorais, não descarta encarar as urnas no próximo ano — dúvida, aliás, que deixava nebuloso o cenário para Cristina, sem falar na falta de um candidato para disputar o Palácio Iguaçu. O que forçaria uma aliança com outra candidatura e uma delicada costura envolvendo outros concorrentes à Câmara Alta.
A provável chegada do deputado federal Felipe Francischini ao Podemos, com a promessa de mando do partido no Paraná, também pesou na decisão da jornalista. Não há qualquer problema na relação entre os dois, mas seria mais uma interrogação sobre o destino em 26. A dúvida é só se Francischini chega em 25 ou na janela partidária do ano que vem ao Podemos.
As reações
A notícia da filiação de Cristina no partido de Moro surpreendeu o Palácio Iguaçu. Alguns analistas de cabeça branca estranharam o fato do anúncio acontecer 48 horas depois que Moro se reuniu com o governador Ratinho Junior — em busca de uma inesperada aproximação eleitoral. Uma boa fonte palaciana conta que a conversa foi bastante protocolar. E, coincidência ou não, dois dias depois o senador mostra ser capaz de montar uma chapa robusta para encarar de frente o candidato do Iguaçu.
Se alguns palacianos citavam a possibilidade de lançar Paulo Martins (Novo) ao governo para dividir votos da direita com Moro, a mesma estratégia pode ser colocada em prática na disputa pelo Senado. Neste caso, o advogado Jeffery Chiquini seria escalado pelo Novo para concorrer contra Cristina dentro do espectro da direita/bolsonarista — onde já está o deputado federal Filipe Barros com o apoio de Jair Bolsonaro para chegar ao tapete azul.
Além do Palácio Iguaçu, quem também só observa os movimentos no xadrez político é o Progressista Ricardo Barros. Aliás, um experiente político do PP disse que o jogo não foi combinado com o partido. Embora, emissários de Cristina tenham se reunido com Barros na Câmara tratando do tema. O progressista teria dito não ter qualquer óbice na filiação. O que Ricardo Barros busca é protagonismo no jogo eleitoral de 26.
Deixado, por enquanto de lado, o PP lançou Cida Borghetti ao governo e estacionou um bode na sala de Sergio Moro. A decisão final caberá ao diretório nacional. A dúvida será: PP e União vão chegar unidos ou rachados no pleito do ano que vem?
Independentemente desta cisão interna, Cristina Graeml chega ao União Brasil como a principal candidata ao Senado do partido. A outra vaga ainda é uma incógnita, mas o PP é quem deve fazer a indicação.
Cristina de 25 e a de 24
O que Cristina de 25 terá de explicar ao eleitor é o comportamento da Cristina de 24 durante a eleição para a prefeitura de Curitiba quando ela desceu a bordoada no “sistema” e no “Centrão” e agora se abriga justamente no partido que hoje, ao lado do PP, representam a essência do “Centrão”. Para o eleitor, talvez isso passe batido, mas na disputa do ano que vem com certeza esta “incoerência” será usada pelos adversários.
Outro ponto que tanto Moro quanto Cristina podem enfrentar até a eleição é a situação de Rueda. O nome do presidente do União Brasil passou a constar nas investigações da Polícia Federal na operação Carbono Oculto após o depoimento de um piloto citando que as aeronaves que transportaram integrantes do crime organizado seriam de Antonio Rueda.
Qual seria a reação de ambos se tal acusação se confirmar? O presidente nacional do partido envolvido com o PCC? Sem falar nos desdobramentos da investigação em cima do empresário José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, apontado como chefe de um grupo envolvido em fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro.
Talvez Moro e Cristina já tenham percebido que no meio político não existem santos e legendas “puras”. E que pertencer a um partido é condição “sine qua non” para disputar um cargo público.
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